O NOVO BUDISMO DE PLENITUDE (SARVA) DE MAITREYA, É A "OUTRA MARGEM DO RIO" DO SAMSARA, PARA ALÉM DO ANTIGO BUDISMO DE VAZIO (SUNYA) DE GAUTAMA.
Madhyamika: O Eterno Caminho-do-Meio
O equilíbrio tem sido sempre uma das grandes bases das religiões. O Budismo e o Taoísmo o professam de forma aberta. No Hermetismo, a sentença "assim como é em cima é em baixo..." visa uma posição de equilíbrio, razão pela qual a Grande Obra termina com o "Caminho de Retorno". A sabedoria do Velho Testamento também aponta nesta direção. E quando Jesus declara "sede mansos como as pombas e astutos como as serpentes", ele certamente está propondo uma conduta de equilibrada. Pois o mais fácil é entregar-se a um extremo de forma simplista, seguindo as nossas tendências naturais. Dentro de nossa natureza vamos encontrar virtudes e defeitos. Mas enquanto estas energias não forem conscientizadas, não existirá o verdadeiro equilíbrio, e sim uma oscilação sempre instável de bem e mal, de forma tal que devemos antes falar de impureza. O equilíbrio difere da impureza na medida em que esta segue a via dos extremos.
O fato é tudo tem um lado bom e um lado mau. Entregar-se a extremos inevitavelmente trará o seu oposto. Por isto, para ser justo com os fatos, o Buda ensinava que, quando estamos alegres, devemos pensar que esta alegria irá terminar um dia, e quando estamos tristes, que esta tris¬teza também irá acabar. Assim mantemos a serenidade em todas as si-tuações e talvez até evitemos o surgimento de uma onda contrária.
O Caminho-do-Meio é a via do equilíbrio. O ditado "nem tanto ao céu, nem tanto à terra" expressa este caminho.
Mas acaso tal equilíbrio será capaz de prover a intensidade necessária ao caminho espiritual? Buda abandonou o seu ascetismo extremado e assim chergou à iluminação, mas apenas depois de praticá-lo por muito tempo.
Nem sempre é simples definir o adequado a cada caso, posto que cada situação merece uma atenção própria. Cada um tem o seu darma.
E a intensidade pode ser buscada de muitas maneiras. Inicialmente, é preciso ser tão íntegro quando possível, pois assim purificamos as energias, e aquilo que é puro também é intenso. Mas também devemos contar com uma fonte especial de energia, na forma de seres que têm realizado este equilíbrio.
Pois o discípulo realizará muito esforço com pouco proveito se não tomar certas bases tradicionais, como o ashram e o guru. Sem se dar conta, o ser humano estará se desviando de seu caminho. A imitação da virtude toma a forma do fanatismo, por exemplo. E quanto mais se esforce, mais crescerá o ego, revestido de "materialismo espiritual" (para usar uma expressão de Chogyan Trungpa). E desta forma o "caminho-do-meio demonstra apenas a sua caricatura através do "meio-do-cami¬nho".
A via do equilíbrio é difícil. Daí ter sido forjada a expressão "fio-da-navalha". É tão fugidio quanto o crepúsculo e tão sutil como o presente.
O verdadeiro equilíbrio apenas é obtido de forma natural numa quarta etapa, na consu-mação do "Caminho de Retorno". O guru servirá de modelo, mas a imitação do mestre deve ser acompanhada da obediência e da humildade.
Assim, nos estudos que seguem, devemos lembrar que estes caminhos sempre requerem o guru e o ashram.
A Dualidade como Base de Transcendência
A questão da polaridade é desde sempre um fator de harmonia no universo. O Taoísmo formula isto muito bem através da filosofia de Ying e Yang. A composição de nossos cromossomos também está feita em pares, e em nosso corpo observamos uma ampla distribuição de dualidades, a ponto de mesmo órgãos únicos como o coração e o cérebro se encontrarem divididos em grupos de pares.
Naturalmente, como tudo o mais, a dualidade não se justifica apenas por si mesma, mas também por aquilo de que deriva e por aquilo que produz. Ela deriva diretamente da Unidade divina, sendo o primeiro ciclo de diferenciação do universo. E aquilo que ele produz é a dialética cósmica, a mutualidade e a transcendência, ou o retorno à unidade através da combinação e da multiplicidade. Não se trata, pois ,da busca pela coisa-em-si, de qualquer dos opostos, mas do equilíbrio, da magia, do absoluto ou do indiviso. Diz o Tao Te King: O Tao produz o Um; o Um produz o Dois; o Dois produz o Três e o Três produz todas as coisas."
De fato, o valor secreto de 2 é 3 (ou seja: 1+2=3), e em termos qualitativos, o dois gera o Terceiro Princípio, que é o da Dialética. Por isto a visão requer a participação de dois olhos, única forma de se obter a chamada "perspectiva" ou a profundidade, que representa a Terceira Dimensão do Espaço na Física moderna (na Tradição de Sabedoria temos a imagem do "Terceiro Olho", de certo modo associado a isto). Sem este contraste tudo o que temos é uma imagem plana, incapaz de oferecer a possibilidade de movimento. E nisto, podemos pensar que tal dimensão de transcendência também se aplique a todos os restantes sentidos e seja um resultado universal do Princípio de Contraste.
Mas em termos quantitativos, podemos observar que o dois também produz diretamente o quatro. Por isto vemos no Taoísmo que Ying e Yang também geram o Pequeno Ying e o Pequeno Yang, também chamados Céu e Terra –ou seja, os elementos "Ar" e "Terra", ao passo que o Grande Ying e o Grande Yang originais correspondem aos elementos "Fogo" e "Água". O Pequeno Ying e o Pequeno Yang surgem das combinações entre o Grande Ying e o Grande Yang.
Na simbologia medieval dos Quatro Elementos, podemos observar a mesma derivação simbólica. "Ar" é "Terra" são representados pelos mesmos triângulos de "Fogo" e "Água", porém com um traço horizontal indicando uma limitação de tendências ou uma divisão interna de influências.
No símbolo do Tao, o Grande Ying e o Grande Yang estão representados como energias em movimento, enquanto que Pequeno Ying e o Pequeno Yang aparecem como pequenos círculos situados no centro dos anteriores, no caso, sempre reunidos em cores ou princípios opostos.
Esta geração de um segundo ciclo representa também a separação entre os pricípios opostos associados ao Caos original. Nos mitos genésicos temos a criação como fruto direto deste contraste original. Na teologia egípcia é o Ar (Shu) separa a Terra (Gueb) e o Céu (Nut), tal como no Genesis o Firmamento e a Terra são gerados depois de separadas as águas do Caos original.
A rigôr, a Terceira Dimensão (profundidade) não pode ser dissociada da Quarta Dimensão (tempo). É na prática impossível pensar em profundidade verdadeira sem o processo de percorrê-la, a menos que estejamos tratando de mera "perspectiva" representativa, como fazen os artistas em seus quadros. Podemos então traçar as seguintes correlações:
1ª Dimensão ........................ Fogo
2ª Dimensão ........................ Água
3ª Dimensão ........................ Ar
4ª Dimensão ........................ Terra
Na estrutura destes Quatro Elementos, podemos observar que eles realmente surgem como síntese de energias opostas, e neste caso corresponde antes de tudo ao princípio satwa ou ao ritmo fixo no Zodíaco. É o equilíbrio dos opostos que dá lugar à estas energias construtivas e portanto iniciáticas.
O contraste é, pois, aquilo que produz a evolução, através da transcendência dos opostos. Mas a fim de obter esta transcendência, devemos alcançar o perfeito equilíbrio entre estes opostos. A Grande Arte está em colocar-nos devidamente no centro do universo, tendo à nossa volta todas as dualidades cósmicas em harmonia.
Da obra "Dharma - a Canção da Vida", LAWS.
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