“Assim, na idade de Kali (ferro) a decadência prosseguirá sem detença, até que a raça humana se aproxime do seu aniquilamento. Quando o fim da idade de Kali estiver perto, descerá sobre a Terra uma parte daquele Ser Divino que existe por sua própria natureza espiritual (Kalki Avatar); Ele restabelecerá a justiça sobre a Terra e as mentes que viverem até o fim da Kali Yuga serão despertadas e serão tão diáfanas como o cristal. Os homens assim transformados serão como sementes do verdadeiro homem.” (Puranas)
Tal como acontece com relação a muitos outros assuntos da espiritualidade, a Tradição hindu é, provavelmente, aquela que trata com maior desenvoltura o tema das encarnações divinas cíclicas, ou seja: os avatares.
Outras Tradições também aportam contribuições de peso, embora em aspectos mais específicos da avatarização, como são salvação, intervenção, divindade, intermediação, modelo, etc.
Não existem dúvidas de que o panteão ou linhagem divina hindu, enumere os adventos divinos sucedidos ao longo do atual Ano Cósmico, o Grande Ano de Platão.
Das 22 encarnações cíclicas de Vishnu, há 12 relacionadas às Eras zodiacais (coisa esta, que a representação simbólica de alguns avatares deixa entrever), e 10 relacionadas às raças-raízes. Ambos os grupos se subdividem em etapas alternadas de dharma positivo de integração, e dharma negativo de interiorização (ver adiante).
E eis que o Hinduísmo vem anunciando a chegada da última encarnação de Vishnu, que é o Cristo cósmico, o 2º Logos, responsável pela preservação ou manutenção da luz, os grandes “reativadores do movimento da roda do dharma” (chakravartin), os administradores cósmicos, enfim, da Verdade universal para cada ronda mundial de evolução.
Para se ter uma idéia da extensão do trabalho destes seres, seria necessário no mínimo investigar tudo aquilo que já se afirmou a seu respeito, e ainda mais.
Citemos então alguns pontos capitais, relacionados às missões avatáricas:
- Resgate das Verdades eternas perdidas, acerca da unidade cósmica.
- Anúncio dos Novos Mistérios e suas instituições.
- Infusão de novas energias espirituais no planeta em diversos planos.
- Estabelecimento da transmissão dos Altos Saberes Tradicionais.
- Concessão de modelos e paradigmas para a evolução humana.
Considerando aquilo tudo que se observa hoje, parece não haver dúvida que a humanidade ainda tem muito a aprender. Porém, o aprendizado da verdade não é coisa simples de alcançar, afinal existem muitas dimensões a se tratar, e que ainda devem ser integradas, havendo em meio a tudo isto o poder do Mal Organizado para confundir, iludir, desviar e tentar separar as coisas.
Esta última encarnação, representa a derradeira oportunidade para a humanidade encontrar os seus rumos e eixo. Não é pouca coisa que ele vem trazer: a totalidade humana, preparando o caminho planetário para a superação da condição humana.
O aristocrático Kalki-Maitreya
Contrastando com a iconografia budista, aceita também pelo hinduísmo, o Kalki Avatar não se apresenta como um asceta, mas antes como um guerreiro, um justiceiro ou um estrategista.
Esta característica aristocrática se estende à celebrada figura de Maitreya, o Buda esperado, com seus atavios de kshatrya (a casta nobre) e postura liberal, ativa e positiva.
Obviamente, não se trata de um homem de casta: a representação avatárica apenas emprega um símbolo. Mesmo no caso de Gautama, ele não era um simples asceta, sendo antes levado a uma via-de-equilíbrio que, não obstante, anda pode figurar a idéia de um monge. Esta foi a base de conduta, para que o avatar alcançasse o conhecimento universal de sua época, muito diferente, todavia, da época positiva de Maitreya.
Tal coisa não deixa de lembrar, isto sim, a figura do Manu, a missão de organização racial, demandando atitudes sociais de amplo alcance. A avatarização do deus criador, Brahma, assume um papel especial durante o manvantara, o ciclo de criação, palavre que também significa “entre dois manus”.
Os Manus seguiriam, na tradição brahmanica, uma via-de-ação paralela à dos avatares. Não obstante, esta atitude guerreira não seria exatamente inédita nos relatos vaishnavas, senão talvez pelo seu alcance, já que vários avatares aparentemente encetaram guerras (de dharma, resgate, etc.), inclusive figuras recentes como Rama e Krishna, em boa parte por causa da natureza da raça árya na qual pontificaram, sobretudo Krishna.
Abrahão e Moisés foram típicas figuras manúsicas, e mesmo o Rei Melquisedec, declarado por São Paulo uma prefiguração do messias, não deixa de representar este ideal aristocrático áryo. Vale lembrar, não obstante, que o momento era particularmente propício para isto, porque incidia no começo da Era de Áries (que é um signo guerreiro) e também na abertura de uma Idade de Prata (aristocrática). Se enquadraram melhor, todavia, dentro de uma missão sub-racial.
Muito embora Gautama também tenha surgido nesta raça, e seja relacionado à casta kshatrya na sua origem (havendo sido inclusive um príncipe), renuncia a tudo isto em nome de uma busca pelo sentido maior da vida. Parece próprio, inclusive, que a tradição budista represente os seus Budas como sábios, contudo Maitreya, mesmo lhe sendo atribuída imensa sabedoria, recebe uma imagem diferenciada.
Jesus Cristo tampouco manifestou inclinações guerreiras, muito antes pelo contrário, num ambiente onde inclusive se aguardava um libertador e até um messias político. Curiosamente, soa difícil enquadrar a missão de Jesus no inventário avatárico vaishnava, já que depois de Gautama resta apenas um avatar. Apesar de Jesus ter aparecido no começo de uma era astrológica, como de resto Abrahão e Melquisedec também fizeram. Tal coisa sugere a necessidade de se revisar certos critérios vaishnavas.
Não obstante, a coisa já muda um pouco de figura na seqüência, com a missão de Maomé. E é natural que, à luz de todas estas informações, um muçulmano se sinta inclinado a ver em seu profeta a imagem do Kalki Avatar. De fato, em nossos tempos históricos, se ignora um profeta declarado que tenha tido tão claramente um papel guerreiro como teve Maomé.
Contudo, quando Maomé declarou ser o último profeta, ele se referia ao encerramento de um ciclo menor, a chamada “Era solar” das raças-raízes, com 5 mil anos de extensão. Ainda que a importância do seu trabalho seja notável, há muitas razões pelas quais não seria possível enquadrá-lo entre os avatares, entre elas a questão da cronologia, mas também a geografia, pois a chegada do último messias é aguardada já no Novo Mundo. Nada impede que a missão de Maomé tenha sido um prenúncio da de Maitreya, muito embora as profecias sugiram aqui atitudes mais amplas em termos espirituais.
As missões alternadas
Em nossas formulações sobre estes ciclo-avatares, temos usado como paradigmas os protótipos do Manu e do Buda (Gautama), para ilustrar a polaridade que caracteriza as atuações dos avatares cíclicos dentro das raças. A tradição brahmanica, talvez já na exegese teosófica, também fala de dois tipos de missões: o “manu-semente” e o “manu-raiz”.
Cabe dividir a chamada Era solar (que é o ciclo racial) de 5 mil anos em duas metades principais, uma “solar” ou positiva, e outra “lunar” ou negativa. Considerando ainda que este ciclo detém uma estrutura de Idades milenares, na sua primeira metade incide as Idades de Ouro e de Prata, e na segunda metade incide as Idades de Bronze e de Ferro.
A metade solar, comporta uma estrutura unificada, onde a matéria e o espírito alcançam se harmonizar. Por isto, este é o grande momento de organizar as civilizações, de implantar novas instituições ou fazer avançar as antigas, havendo aqui um forte e legítimo consórcio entre o poder e a espiritualidade, ainda que idealmente, durante toda a evolução humana, a verdadeira fonte da sabedoria resida antes nas forças supra-históricas, como é o Governo Oculto do Mundo, a Loja Branca, ou as linhagens de profetas que inspiram e orientam os homens de boa-vontade a fazer a sua parte na construção de um mundo melhor. Esta primeira etapa, seria aquela mais associada à missão dos Manus, e aqui entra a idéia do “manu-raiz” na implantação de uma Raça-raiz. Corresponderia ainda à categoria Dhyani ou “Meditativa” dos Budas, significando com isto o poder mandálico de organizar as raças ou as regiões do planeta, como foram Krishna e o Manu, assim como os profetas sub-raciais deste hemi-ciclo, onde se fomenta um dharma de Ordem e de “hierarquismo” unificador.
Já na segunda metade, ocorre o fracionamento, o peso da materialidade se torna excessivo, e o espírito deve buscar seguir um curso paralelo sem “interferir” demais nas coisas materiais. Aqui surge até a tentativa de engessar o Pontificado Universal, que é uma missão dos Adeptos, dentro de correntes históricas, de modo que, neste momento, a forma externa tende a se cristalizar e a perder legitimidade. Então é melhor separar as coisas para não comprometer as verdades espirituais, reformando as antigas instituições para desvincular cada vez mais o poder da espiritualidade. Esta segunda etapa, seria aquela mais associada à missão dos Budas, entrando a idéia do “manu-semente”, na preparação da futura Raça-raiz. E também corresponderia à categoria Manushi ou “Humanos” dos Budas, da qual se diz ter sido Gautama, na qual se fomenta um dharma de maior “humanismo” e o dualismo.
Esta questão pode ser comparada com a vida humana, cujas maiores conquistas se dão até a sua metade (entre os 36 e os 42 anos, supostamente), muito embora se possa seguir aperfeiçoado as coisas até o final da vida, porém mais a título de “administração” do que propriamente de esforços de criação. Este segunda metade da vida, estaria de certo modo dedicada ao futuro, que é o enigma da morte e o risco da extinção –até das próprias criações-, envolvendo daí o esforço de perpetuação daquilo que se criou, incluindo os filhos, que são uma espécie de continuação da nossa própria vida.
Ao mesmo tempo, se deve passar a cuidar mais da saúde, em nome manutenção da vida, e até mesmo a desenvolver reflexões sobre os mistérios do além e o destino da alma. Enfim, se a exteriorização criativa é pujante na juventude, a interiorização é inevitável na velhice, como é também no inverno do ano e nas idades menores da Terra, consideradas nos mitos como a “velhice do mundo”.
Os signos do novo Avatar
O Buda aguardado, Maitreya, se enquadra seguramente na anterior categoria Dhyani dos Budas, mais exatamente, no papel do Buda Amithaba ou Amida, sempre relacionado ao ocidente e à família Lótus (ou ao amor e à compaixão) e ao Elemento Fogo, o quarto elemento da iluminação ativa.
Os signos do novo Avatar
O Buda aguardado, Maitreya, se enquadra seguramente na anterior categoria Dhyani dos Budas, mais exatamente, no papel do Buda Amithaba ou Amida, sempre relacionado ao ocidente e à família Lótus (ou ao amor e à compaixão) e ao Elemento Fogo, o quarto elemento da iluminação ativa.
Podemos entender estas energias de várias formas. O Lótus, que vincula aqui Maitreya a Jesus numa continuidade histórica que permite a idéia de unidade e de evolução missional (cultuada especialmente no Cristianismo), se deve ao Sexto raio de Idealismo-Devoção que surge através de Júpiter. A Era de Peixes foi a sexta Era zodiacal do manvantara, e a nova raça-raiz também será a sexta raça como é sabido.
Quanto ao Quarto Elemento, se deve ao fato de se tratar da quarta raça humana, ou a quarta humanidade “iniciada” (surgida após a chegada de Shambala na época lemuriana), considerando que as duas raças originais estavam sob uma outra economia de energias. O Quarto Elemento culmina e completa a evolução humana, que é um reino quaternário. O umbral quaternário é severo, associado à cruz espiritual, e demanda uma criteriosa recapitulação energética da evolução humana para se poder ultrapassar, porque está relacionada às provas da morte, da iluminação e da ressurreição.
O simbolismo astrológico também contempla estas realidades. O Aguador que verte as águas da vida sobre a Terra, tem o seu jarro sagrado que aparece sempre na iconografia de Maitreya. É o mesmo Lótus do coração, sendo o coração o quarto centro, no qual se ativa o Elemento Fogo, base da iluminação “verdadeira”.
De onde ele virá
O Vishnu Purana afirma que Kalki nascerá na cidade de Shambala. Esta é uma palavra que se estendeu ao budismo, sendo de “uso comum” na Escola Vajrayana, atualmente radicada no Tibet e no Japão. Alguns sábios budistas como Atisha, afirmam ter extraído os seus saberes deste centro. Fala-se neste caso, especialmente na “Shambala setentrional”.
Com o passar do tempo, Shambala adquiriu o sentido de pólo primordial, relacionada também a Sanat Kumara, uma espécie avatar primordial (como o Adi Buda) que adquire em alguns contextos o papel de deidade da Terra. Assim, o primeiro e o último avatar, terminam por ser identificar em alguns aspectos, ainda que simbólicos. Consta também Sanat Kumara chegou a este mundo com quatro irmãos, futuros regentes das raças que viriam. Temos aqui, portanto, um êmulo da mandala dos Dhyani budas do Budismo.
Na verdade, o mito de Shambala, com esse ou aquele nome, seria comum a todos os avatares. A rigor, todos os Mensageiros estão relacionados a duas cidades sagradas, a do nascimento e a da missão. Por exemplo: Krishna (Dwarika e Vrindavam), Buda (Lumbini e Benares), Jesus (Belém e Jerusalém) e Maomé (Medida e Meca).
A cidade natal dos profetas segue um padrão universal, relacionado ao centro solar do hemisfério, ou seja: ao paralelo 30. Este seria, portanto, um dos requisitos divinos, e um dos “sinais” dos avatares.
Tal coisa também está relacionada ao vastu mandala racial, a organização do país-de-dharma que Krishna instou seu discípulo Arjuna a organizar, através da batalha sagrada de Kurukshetra. A Batalha de Rama também adquiriu um sentido semelhante, na medida em que Sita condicionou a própria libertação à destruição do reino maléfico de Ravana.
A simbologia da cidade está relacionada ao dharma, a lei espiritual. Parece não ser casual que oitavo avatar maior, Krishna, tenha nascido na “Cidade das Oito Portas” de Dwarika. As descrições do paraíso do último avatar, seja a Vaikuntha de Vishnu (Kalki), a Tushita do Buda (Matreya) ou a Jerusalém celestial do Cristo retornado, apresenta sempre doze portas. Embora Kalki seja o décimo grande avatar, acompanha o tema um sentido de completação zodiacal, já que se trata do encerrador do ciclo cósmico. Aqui o décimo avatar da divisão maior, corresponde também ao décimo-segundo da divisão menor.
Pois vale notar aqui, e para concluir o nosso tema, que existem realmente missões conjuntas ou acumuladas, quando acontece de dois ou mais ciclos começarem juntos ou aproximados. Este seria, aliás, um outro sentido do quádruple-Kumara, porque lá nos Primórdios cósmicos haveria o alinhamento entre ronda, ashram, raça e era. Os avatares duplos como Vaikuntha (que também parece estar relacionado a Kalki), misto de Leão e Javali, velariam uma conotação desta natureza.
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Da obra “Maitreya – a Luz do Novo Mundo”, LAWS, IBRASA.
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