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O Caminho-do-Meio e o meio-de-Caminho


O Caminho-do-Meio é uma realidade própria da consumação espiritual, ao passo que o meio-do-Caminho é, naturalmente, apenas uma condição preliminar.
Não é coisa simples trilhar o Caminho-do-Meio, ele é estreito e perigoso, sendo chamado por isto de “o fio-de-navalha”. Na sua acepção mais elevada, este Caminho-de-equilíbrio se relaciona aos Mistérios da Outra Margem do dharma, e também ao Sendeiro de Retorno dos mestres.
De forma consolidada, ele pertence à esfera da iluminação, mas também do iniciado, e até o discípulo tem vislumbres de sua natureza. A “Tábua de Esmeraldas” de Hermes Trismegisto, busca ensinar sobre este Mistério, especialmente onde diz:
“Sobe da terra para o Céu e desce novamente à Terra e recolhe a força das coisas superiores e inferiores.
“Desse modo obterás a glória do mundo.
“E se afastarão de ti todas as trevas.
“Nisso consiste a força maior de todo poder.”
Assim, é preciso passar pela experiência dos opostos ou dos extremos, antes de alcançar o equilíbrio libertador. E isto é muito diferente da tentativa de permanecer “a meio-termo” nas coisas desde o início, coisa que serve apenas como o... “meio-de-Caminho”.
Vale aqui contar, pois, com a Arte da Experiência –ou com o discernimento, a primeira virtude do iogue-, na certeza de que, mesmo nesta busca inicial dos “extremos”, preserva-se o equilíbrio e o bom-senso. Existe uma cota de erros a ser tolerada aqui, para que alguém se mantenha na senda.
E há muitas razões para que o mais comum sejam as “mensagens do meio-do-Caminho”, e nem sempre desencaminhadoras. Vejamos estes dois importantes fatores históricos predisponentes:
1. A Humanidade ainda está a caminho da sua consumação evolutiva.
2. A sociedade não tem vivido hoje um ciclo interno favorável às sínteses.
Assim, no seu geral a humanidade ainda é “peregrina” -sendo esta, na verdade, uma condição inerente à ela-, rumando hoje para a sua própria superação como espécie. A humanidade não alcançou ainda a sua meta evolutiva, pois o ser curso está em andamento, ainda que adentra agora na sua última “raça-raiz”, e na prática a Nova Era cobre tudo o que falta evoluir, porque ao seu final já emerge uma nova ronda mundial.
Ademais, mesmo em seus ciclos internos, como são as raças-raízes, as Idades atuais são negativas e fragmentárias, dificultando o entendimento das sínteses. Este tem sido o arco lunar da Era solar arya, aberto na época do Buda através de uma grande manifestação de Adeptos.
Assim, a mensagem do meio-do-Caminho pode chegar a ser bastante elevada. Basta dizer que Gautama e Jesus foram avatares desta ordem (avatares manushi ou humanistas), com seu ensinamentos mais voltados para a interiorização do homem do que para a organização superior das instituições. Esta colocação pode soar especulativa, afinal o aperfeiçoamento moral ajuda a depurar a sociedade. Porém, não estamos falando apenas de “ética” (ou da “sabedoria” no jargão Budismo), mas de todo um amplo corpo-de-experiências que se pode desenvolver sobre estas bases.
Este Caminho-do-Meio é vislumbrado pelos iniciados e experienciado pelos mestres. Ns profecias, diz respeito aos Mistérios da Consumação, ao Dharma do Buda Maitreya e à Resurreição do espírito –e não da “carme”- sob a volta do Cristo.
Nas suas raízes, o Budismo de Gautama é uma doutrina “mediana” porque objetiva o Vazio (Sunya), ao passo que um dharma “ativo” como o de Maitreya, parte dali para sustentar a Plenitude (Sarva). É verdade que o dharma de Gautama tem sofrido adaptações pontuais através dos séculos, por vezes sob a influência de doutrinas ancestrais de integração, reflexo inclusive da evolução dos tempos, preparando o terreno da síntese na medida em que se aproxima uma Nova Era positiva.
“A humanidade é uma ponte entre o menos-que homem e o mais-que-homem”, escreveu F. Nietzsche. E isto que ele descreve é a condição humana, que é uma passagem no sentido de ser coisa incerta e estreita, sujeita a oscilações, dualismos e conflitos -entre as coisas superiores e as coisas inferiores.
Dizer que esta situação é um Caminho-do-Meio, seria um equívoco semelhante ao acima denunciado, porque é, isto sim, o meio-do-Caminho da evolução planetária... Porém, esta situação está para mudar, com a consumação da evolução humana, da qual a nova Era é a sua etapa final e a grande ponta-de-lança da ascensão mundial.

Evolução política na Era lunar

A tendência “idealista” de toda uma época do mundo, frutificou positivamente nas mãos dos grandes filósofos que não “sucumbiram” de total à falácia anarquista e ao “Humanismo” linearizante do zeitgeist (“tendência de época”) mas, pelo contrário, entenderam a necessidade da ordem e da hierarquia como fundamento social. A profundidade destas visões deu margem a movimentos sociais fundamentalistas, através de mosteiros e de casernas que alicerçaram o Estado social de boa parte desta Era lunar, que é a seguda metade da raça (árya, neste caso), ou os últimos 2.600 anos iniciados com o Buda.
A Idade Média -“média” que também pode ser tanto equilíbrio quanto medianidade, Caminho-do-Meio ou meio-de-Caminho- foi mais “funcional”, portanto, por causa da organização social ancestral (“sociedades bárbaras”) ou inspirada nas grandes filosofias, do que propriamente por causa de qualquer discurso político moralizante, que sozinho apenas pode gerar uma filosofia eunuca. O Ocidente se inspirou mais em Platão/Pitágoras (política da santidade), e o Oriente o fez mais em Aristóteles (política da virtude), com suas influentes Escolas (Academia, Liceu), na medida em que se harmonizavam com as bases religiosas dos profetas, messias e avatares. O mesmo se pode dizer do “aristocrático” Confúcio e do “sapiencial” Lao Tsé na esfera da China, de modo que o espírito das “classes superiores” manteve a ordem social por quase toda toda esta Era lunar, dominada por certo “Humanismo” como costuma suceder, sob a inevitável ascensão da burguesia (Idade de Bronze; Budismo) e depois do proletariado (Idade de Ferro; Islamismo), dominantes como tendem a ser culturalmente, no hemi-ciclo lunar das raças.
Com o passar dos séculos e o começo da Era da globalização no século XVI, estas sociedades perderam o seu dinamismo, e apenas na Modernidade se começou a repensar as bases sociais humanas, através da Sociologia, termo fundado pelo filósofo francês Augusto Comte, o pai do Positivismo e da “Religião da Humanidade”. Estes foram os primeiros passos para a retomada da atividade social tática, tal como se observa na Grande Tradição dos Patriarcas estrategistas da Antiguidade. F. Hegel ainda finca pé no idealismo, mas recoloca bases para que K. Marx possa anunciar, com todas as letras, que a verdadeira política demanda ativismo social, em complemento à virtude dos líderes. “Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de diversas formas, cabe transformá-lo”, afirmou ele. Obviamente, tal coisa ressoa especialmente na juventude, cheia de vigor e sedenta de boas causas.
Neste quadro, surge contudo na era contemporânea, um J. Krishnamurti apenas para dar um “tempero” ainda mais anarquista a uma época de desconstrução, trazendo muitas vezes mais desorientação espiritual, do que efetiva ajuda à necessária reordenação social. Para quem fez as sínteses necessárias de tudo isto, não existem maiores problemas. Urge mais uma vez a sociedade pensar em termos estratégicos, isto é, de classes organizadas, sob pena de não haver força e coesão para inspirar um novo consenso capaz de transformar o mundo. “Espiritualistas do mundo: uní-vos! Porque é chegada a vossa hora.” Sim, os preceitos sociais dos filósofos podem ser adaptados para este momento de urgências, não cabe aguardar o caos porque é uma loteria que não merece ser apostada, e os sofrimentos serão inevitavelmente grandes demais.
“Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”, disse um artista engajado. Afinal o Saber é um palavra da Nova Era, e certamente jorra em abundância da jarra de Maitreya como a boa Colheita das Idades. É o mesmo saber que brilha na espada do Kalki avatar e reaparece na boca do Cristo do Apocalipse, como o Verbo inflamado e criador.

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