Os “Mistérios da Outra Margem”, representam aquele universo cultural que existe para além do marco da iluminação, tratando do mundo que começa no Caminho de Retorno, envolvendo também as grandes sínteses intelectuais e as mateses, propostas ou praxis cósmicas baseadas no “conhecimento total” dos ciclos e das energias.
Naturalmente, este quadro tange especialmente aos “deuses”, ou aos mestres de hierarquia maiores, assim como aos patriarcas e aos profetas, que inspiram religiões e povoam os mitos e as lendas mais antigas das nações.
No entanto, também abrange indiretamente uma parte importante da evolução humana, na medida em que as Idades de Ouro e de Prata das Civilizações se acham igualmente influenciadas por estas energias, sendo consideradas aquelas épocas em que “os deuses andavam entre os homens”. Com isto, estas Idades terminam por se assemelhar em parte com os feitos das raças olímpicas, as quais recomeçam em certo sentido agora em 2012, como prescrevem as profecias maias acerca do “retorno dos deuses planetários” (a manifestação da Hierarquia dos Chohans, os Mestres de Raios) na chegada do Sexto Mundo. Se trata também da liberação da iluminação para o Centro da Humanidade, donde a atualidade desta matéria.
Existem períodos da evolução humana, nos quais as hierarquias superiores alcançam conviver com a humanidade com relativa fluência. É esta proximidade que permite a edificação das grandes Idades do Mundo, ou as Idades de Ouro e de Prata, que são consideradas cronologicamente maiores que as restantes, dentro de calendários mundiais como o do Manvantara (o “Dia de Brahma”), à parte toda a superioridade interna que detém enquanto equilíbrio de valores. Por isto, para alcançar a Outra Margem do Rio do Tempo, surge agora a revelação do Dharma de Maitreya, o Buda aguardado, voltado para a conquista do equilíbrio universal em todas as dimensões da vida (ver “Tushita – O Reino da Felicidade”, de Luís A. W. Salvi, IBRASA, SP).
Inclusa neste calendário, existe uma contraparte misteriosa chamada Pralaya (a “Noite de Brahma”), a respeito da qual são exíguas as informações. Contudo, sabemos que cada período corresponde à metade do Ano cósmico de 26 mil anos. O Manvantara ocupa os seis signos-Eras que vão de Câncer (2º Raio) a Aquário (7º Raio), e o Pralaya ocupa os seis signos-Eras que vão de Capricórnio (7º Raio) a Leão (1º Raio). Assim, vemos através dos Raios envolvidos que existe uma manifestação de energias no Manvantara (Raios de 1 a 7) e uma Reabsorção no Pralaya (Raios de 7 a 1).
Ora, os primeiros signos do Pralaya são Capricórnio e Sagitário, regidos por Cronos e Zeus, respectivamente, o que nos fornece os dois grandes regentes do Olimpo, no ciclo dos deuses e no ciclo dos titãs, servindo de base para as chamadas Raças Olímpicas. Depois chega o tempo de Hades, o deus dos infernos associado à Era de Escorpião, e sempre mais ou menos ligado a Marte, o deus da Guerra, que tradicionalmente rege este signo.
Antes de tudo isto, acontece a Criação divina, sob Uranos e Gaia, remetendo pois à Era de Aquário, esta à qual o mundo hoje retorna, prenunciando todas estas coisas além-do-humano. A iluminação é uma realidade que alcança a Hierarquia no ciclo atlante (em Câncer), e chega à Humanidade no ciclo americano (em Aquário), ou seja, duas raças após, que é a diferença de graus entre ambos os centros (aqui jaz o mistério das duas raças ocultas). Assim, a partir dali, a imortalidade se torna uma possibilidade humana e uma meta universal.
Assim, o trânsito para a Outra Margem da Vida, que é a experiência quântica do mundo luminoso e fluído, capaz de avançar sobre as próprias fronteiras da morte, não é coisa que se faça horizontalmente ou apenas através de medidas humanas, porque demanda a presença das forças superiores. Aquele que se aventura neste mundo, arrisca-se temerariamente numa jornada perigosa, porque nele o homem apenas pode transitar seguramente quando acompanhado de mensageiros da luz. Não obstante se tratar de uma experiência essencial, porque ensina sobre as leis maiores da vida e os caminhos da evolução do homem, às vezes para além da sua própria condição.
A frase de Jesus "Passemos para a outra margem", é comumente citada pelos pregadores, pois o convite envolve suas provações. Citemos o episódio:
“E, naquele dia, sendo já tarde, disse-lhes: Passemos para a outra margem. E eles, deixando a multidão, o levaram consigo, assim como estava, no barco; e havia também com ele outros barquinhos. E levantou-se grande temporal de vento, e subiam as ondas por cima do barco, de maneira que já se enchia. E ele estava na popa, dormindo sobre uma almofada, e despertaram-no, dizendo-lhe: Mestre, não se te dá que pereçamos?
“E ele, despertando, repreendeu o vento, e disse ao mar: Cala-te, aquieta-te. E o vento se aquietou, e houve grande bonança. E disse-lhes: Por que sois tão tímidos? Ainda não tendes fé? E sentiram um grande temor, e diziam uns aos outros: Mas quem é este, que até o vento e o mar lhe obedecem?” (Mc 4, 35-41)
Jesus tinha poder sobre os Elementos, porque ele era um detentor da Quintessência, um Mestre sobre as forças deste mundo, portanto. Naturalmente, o episódio reflete a travessia a sêco do povo em êxodo pelo Mar Vermelho, dirigida por Moisés.
Esta “Outra Margem do Rio” tem relação, portanto, com os Mistérios Maiores, com os mitos vivos, com as grandes lendas e com as virtudes do heroísmo e da santidade. A grandeza é, naturalmente, o universo destas realizações. O coletivo, o universal, o cósmico... enfim, o espírito que norteia a mente dos grandes seres. Os homens herdam por associação este espírito, de início com legitimidade porque atuam a serviço dos deuses ou sob a sua orientação. Porém, na medida em que os Centros se afastam e as Idades do Mundo decaem, mais e mais este espírito se polui e perde legitimidade, até restar somente uma patologia megalômana que leva à criação de impérios materialistas. Contudo, alguns povos ainda têm a sabedoria de reverter o curso das coisas, e renunciar à civilização enquanto ainda é tempo, porque uma civilização sem alma é muito pior do que a volta às selvas.
São as épocas que forjam os mitos e as epopéias. Os deuses às vezes parecem humanos porque eles também têm algo de humanos, e terminam envolvidos com as coisas dos homens. Mas as aparentes “peripécias” dos deuses não os tornam menos divinos e nem menos imortais, porque os iluminados não podem perder a sua eternidade, e dificilmente eles caem de fato.
Mas as ações dos deuses jazem num plano maior e estão sujeitas a outras leis, que são as próprias Leis da Ascensão, na qual mais vale o bem comum do que o bem individual, existindo destarte uma ampla renúncia àquilo que é particular, mesmo na esfera da felicidade divina, como sucede no voto do Bodhisatwa.
Por isto os reis, que são aspirantes à iluminação, também costumam ter atitudes sistemáticas, que colocam o interesse coletivo acima do bem pessoal. Quando a meta ainda é a iluminação, os homens também podem se parecer com deuses, na sua busca pela consciência maior. Pois isto, as esferas muitas vezes se confundem na aparência.
Sabemos que também existem os semi-deuses, como foram Perseu e Hércules, que seriam justamente aquela esfera existente entre a divina (que é a dos avatares) e a humana, representada através do Centro da Hierarquia. Nos mitos, estes semi-deuses nascem justamente da intimidade entre os deuses e os humanos, por vezes apresentada em termos de infidelidade conjugal, coisa esta que pode não passar de simbologia. Os conflitos entre deuses e homens pertencem, da mesma forma, mais à esfera dos mitos, e teria relação com ações por vezes abusivas de cleros organizados.
* Da obra “Vivendo o Tempo das Profecias”, LAWS, Ed. Agartha
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