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A Lenda do Kalki Avatar

“Quando os ensinamentos dos Vedas tiverem sido esquecidos, e o fim da idade de Kali Yuga esteja muito próximo, uma porção do ser divino que existe sob o aspecto de Brahma, que abrange todas as coisas, descerá à Terra (...) e se apresentará sob a forma de Kalki, dotado das oito faculdades sobrenaturais.” (Vishnu Purana)

*   *   *

I. Decisão

Kalki estava no paraíso de Vishnu chamado Vaikuntha, quando chegou a sua hora de descer à Terra para encerrar o Kali Yuga e mais todo o Kalpa, por se tratar do último avatar deste ciclo cósmico. O mundo deverá ser preparado para ingressar doravante num novo Pralaya ou Noite de Brahma. Por isto Kalki recebe o nome de “Destruidor do Tempo” e “Arauto da Eternidade”.(1) 

O futuro Enviado foi então advertido por Vishnu que grandes seriam as suas provações. Fortes expiações deveria suportar e severo seria o treinamento que deveria receber para poder cumprir todas as suas missões, porque naquela altura a humanidade já havia acumulado muito carma ao longo de todo o Manvantara

De modo que haveria muito trabalho a fazer em pouco tempo, e para isto o seu tempo deveria ser aproveitado e até intensificado ao máximo, através de uma grande gama de experiências com energias muito contrastantes. Definitivamente, não seria uma vida de paz e tranquilidade a sua…

Sabia ademais que por maiores conhecimentos e experiências que já houvera acumulado no passado, deveria agora banhar-se nas águas do esquecimento, que é o destino de todos aqueles que descem à encarnação.

Porém o maior dos guerreiros de Vishnu não se intimidou e decidiu que a sua hora era chegada. Apesar de tudo estava ansioso por descer à Terra, pois esta não era a sua primeira encarnação de Deus e agora estava preparado para desafios ainda maiores. 

E para confirmar a sua determinação pediu para que Vishnu desde o início lhe retirasse a proteção que as crianças em geral e em especial os seus Mensageiros costumam receber ao descer à Terra. 

Enquanto isto lá no submundo a deusa Kali -senhora do próprio tempo, kala-, se revoltava porque o Avatar ameaçava destruir o seu reinado de trevas e de opressãoDecide por isto fazer tudo o que estivesse ao seu alcance para impedir o sucesso da Missão de Kalki.

II. Descida

Eis então que a jovem rainha Sumati da Dinastia de Chandra, a Lua, esperava com seu amado rei Vishnuyasas da Dinastia de Surya, o Sol, o futuro Kalki, para ser o aguardado príncipe do glorioso reino de Shambhala,(2) célebre por suas linhagens de reis sábios e justos. 

Longamente o reino preparou-se para este acontecimento, buscando estar próspero e pacificado, a fim de que o primogênito que chegava encontrasse as melhores condições.

Os astrólogos da corte acompanhavam com muita atenção aquela gestação e vaticinaram um grandioso destino ao nobre herdeiro, ao observar que o seu horóscopo também viria a reunir os grandes signos do sacerdócio e da realeza, algo que costuma ser associado sobretudo aos Seres divinos.

Observaram assombrados também que, à medida em que se aproximava o dia do seu nascimento, todos os deuses estavam se reunindo no céu a seus respectivos pares, como se um grande cortejo estivesse se organizando, para anunciar assim o final dos conflitos cósmicos -e nada seria melhor para assinalar o dharma do último Avatar...(3) 

Estes seriam então os primeiros sinais que Kalki apresentaria do seu glorioso destino, antes mesmo do seu nascimento. Tudo parecia pois muito bem e até melhor do que o esperado, até que o impensável aconteceu... 

Eis que enquanto a rainha repousava, a deusa Kali, representando o karma do mundo, aparece das sombras para retirar a criança diretamente do ventre de sua mãe com garras de aço, levando-o para o seu próprio reino e tomando-o para si a fim de educar e de atormentar a criança. 

Deixando atrás de si a jovem princesa desolada juntamente com suas amas, sem esperanças de poder encontrar o seu rebento perdido nas mãos da poderosa deusa Kali. 

E nada mais podia fazer do que conformar-se com seu triste destino, tal como do seu indefeso bebê, entregue agora às mãos de uma obscura rainha de intenções desconhecidas…

Muitas eram as maldades realizadas por Kali contra o pequeno, buscando minar o seu moral desde criança para que ele fracassasse na sua Missão. E assim iniciava, tão precocemente quanto possível, a vida de provações do jovem Kalki, visando preparar o seu espírito para ser capaz de cumprir as suas árduas Missões.

A cada vez que o jovenzinho desejava adormecer, a perversa deusa lhe espetava com ferros para que permanecesse acordado. Somente ao amanhecer era permitido ao infante repousar por algumas poucas horas.

Ele também era desprezado por seus irmãos-demônios porque estava sempre sonolento e não conseguia realizar bem muitas coisas. Contudo se os estudos de Kalki não rendiam durante o dia, ele aproveitava as suas longas noites insones para estudar tudo aquilo que queria. 

E assim ia se instruindo e aprendendo sobre as coisas do mundo, chegando a conhecer muito mais do que qualquer outro jovem de sua geração.

Além disto ele tinha grande amor pela vida, sentia-se bem na Natureza e até ganhou um cavalo chamado Vimana de alguns vizinhos que simpatizavam com ele,(4) pois viam nele um jovem gentil e de bom caráter.

Considerado como uma manifestação de Garuda, o belo cavalo branco de Kalki também é conhecido por Davadatta, “Dádiva de Deus”, por haver sido dado por Shiva para Kalki. Contudo dada a sua destreza e habilidades, os vizinhos doadores do animal, que eram devotos de Shiva, chamaram-no também como “Vimana”, nome dado na Índia a uma espécie de naves espaciais místicas dos clássicos hindus.

E assim Kalki seria provado desde o seu nascimento até a idade adulta, quando finalmente poderia tomar o seu destino em suas próprias mãos. Contudo, sem saber disto, através deste seu tormento inocente ele estaria saldando boa parte do carma pretérito da humanidade.(5)

III. Preparação

Nesta altura apareceu então Shiva para lhe resgatar apontando-lhe os caminhos do yoga, quando finalmente Kalki pode descansar em meio às austeridades propostas, mas não sem antes lhe apresentar também o Soma para atenuar os fortes sofrimentos acumulados por sua alma. 

Considerando a sua vida de tormentos e de turbulências até então, este era com efeito um novo universo de paz, ordem e promessas de evolução, ao qual Kalki se entregará apaixonadamente e com todas as suas forças...

E assim o jovem aspirante passará vários anos em intenso treinamento de autoperfeição através dos mais diferentes iogas para fortalecer o seu espírito, em meio a retiros de ashrams e cavernas situados em diferentes regiões, treinando a sua vontade e crescendo em sabedoria.

Buscava colher respeitosamente cada semente de sabedoria e de ciência espiritual dos velhos mestres, na esperança de encontrar indícios sobre tudo aquilo que intimamente procurava.

Não obstante logo percebeu que não lhe bastavam os conhecimentos outorgados pelas escolas espirituais então existentes no mundo, e começou a experimentar muita coisa por conta própria. Com isto algumas vezes precisou retroceder, e outras vezes descobriria que estava alcançando avançar. 

Kalki sabia e intuía que havia se perdido muito dharma e conhecimento no mundo a esta altura das coisas, pois é trabalho do Kali Yuga praticamente extinguir o Dharma da face da terra, 

porém também é tarefa do Avatar tratar de renová-lo então, a qualquer custo que seja e sem medir esforços, empregando para isto todos os recursos necessários, se preciso inclusive regressando às próprias origens da espiritualidade para refazer todos os seus passos através dos eóns...

De modo que não havia muito mais a fazer senão ousar e experimentar por conta própria, com a cautela devida e atento para todos os sinais que o mundo espiritual pudesse outorgar, especialmente através de sonhos. 

Demonstrava não obstante uma capacidade especial para intuir os iogas mais avançados. Para ele tampouco havia limites por onde buscar o conhecimento, não tardando a receber instrução diretamente das Dakinis e dos grandes Mahasidhas

E estas seriam apenas as primeiras conquistas de Kalki como o grande Terton que se tornaria, como são conhecidos nas terras do Tibet os descobridores de tesouros ocultos. Um grande resgate de conhecimentos perdidos começava então, para oferecer à humanidade a possibilidade de conseguir avançar uma vez mais à frente.

E esta seria também a Idade de Ouro da própria existência de Kalki, numa etapa de buscas intensas e de experimentos espirituais, regada porém de sublimes realizações internas. 


IV. Batalhas

Quando o seu espírito começou a florescer com perfeição, aparece-lhe então Vishnu para oferecer as suas oito armas sagradas -as quais são também armas de iluminação e de salvação-, para que Kalki possa travar assim todas as batalhas que está destinado a fazer para a extinção do Kali Yuga e a renovação do Dharma.

Com elas Kalki deverá ser capaz de vencer obstáculos e superar provações, como enfrentar demônios como Susna, o mais antigo e temível feiticeiro da Terra, que voltou-se contra o Avatar para tentar impedir a sua Missão salvadora, impingindo-lhe então grandes sofrimentos através de feitiços mortais.

Susna sentia-se seguro em seu santuário secreto além do Himalaia. Porém graças à sua clarividência, Kalki descobre o local e voando com Vimana invade de súbito o templo de Susna, apavorando mortalmente o demônio para que ele cesse de fazer o mal na Terra. Graças a isto terminam os grandes conflitos entre as nações.

Depois disto Kalki também reúne novos aliados  (cujos nomes serão lembrados por incontáveis gerações) para enfrentar várias hostes de demônios que estavam oprimindo a população. 

Para conseguir enfrentar tantas hostes do Mal, Kalki pode contar ainda com o auxílio de Parashurama como seu treinador. Parashurama era um célebre Chiranjivi (“imortal”) que também colaborou nas grandes batalhas de Rama no Ramayana e de Krishna no Mahabharata.

E assim passarão muitos anos em que Kalki enfrentará os demônios que atormentavam a Terra, enquanto buscava curar as suas próprias feridas adquiridas nestas batalhas.

Como todo verdadeiro guerreiro da luz, Kalki sabia que nenhuma grande jornada espiritual poderia acontecer sem um profundo conhecimento natural e sobrenatural das artes da cura, permitindo fazer com que uma vida pudesse ser então desdobrada em muitas existências. 

Desta forma ele poderia sempre contar também com o auxílio de seres naturais, sobrenaturais e intermediários, para receber benefícios e aprender muito sobre estes conhecimentos especiais.

Neste aprendizado sobre as energias do mundo, Kalki também conheceu aquilo que bem se pode chamar de “Sagrado Feminino” (tal como reunido na Tridevi dos hindus) no seu mais alto grau e em todas as dimensões, colocando profundamente os alicerces da Idade de Ouro em sua consciência de Iniciado dos Mistérios.



V. Iluminação

Percebendo que agora o mundo espiritual já estava mais pacificado, Kalki apela a Brahma para que possa reorganizar o mundo terreno em nome do bem geral, e a fim de que finalmente recomece a Idade de Ouro no planeta. Contudo Brahma insinua que isto não é possível porque a humanidade ainda segue gerando muito carma…

Kalki porém está decidido em seu propósito. Argumenta que apesar dos anos avançados, ainda está disposto a renovar os seus primeiros votos de renúncias e de sacrifícios para que a humanidade possa reencontrar os seus dias de paz e de felicidade. E assim abandona os palácios que havia conquistado durante as suas batalhas e começa a realizar longas penitências e mortificações para que Brahma atenda aos seus pedidos.

Impressionado e sensibilizado pelas atitudes de Kalki, Brahma apieda-se dos sacrifícios do resoluto Avatar e lhe concede as chaves do Conhecimento Supremo, para que as mentes das pessoas pudessem ser iluminadas e adquirir o brilho do cristal, para assim inaugurar a era do verdadeiro conhecimento e as portas da Idade de Ouro começarem a ser abertas.

Muita iluminação e entendimento pode ser alcançado desta forma. Os mistérios da espiritualidade foram solucionados e os enigmas da existência resolvidos. Belos caminhos puderam ser vistos onde antes era somente dúvida e confusão.

Com efeito, muitas foram as maneiras como o Enviado de Vishnu tratou de encerrar o ciclo escuro de Kali. O Avatar voltou a ensinar os Yogas mais poderosos que haviam sido esquecidos pela humanidade, a fim de que cada um possa elevar definitivamente as suas energias, gerando uma proteção às más influências astrais, da mesma forma como um organismo saudável repele os vírus existentes no meio ambiente. 

É a promessa da armadura espiritual que empodera o ser humano, libertando-o da necessidade da vida contemplativa, como é próprio das Eras positivas do mundo onde o ser humano é realmente livre e espiritualmente emancipado.

Outra tarefa do Avatar foi desmistificar o falso Reino de Kali nas consciências, através de uma perfeita organização do Relógio Cósmico, corrigindo assim calendários falsos e incompletos. 

Eis que a ignorância existente sobre os ciclos da humanidade levou muitos a imaginar um contínuo reinado para Kali desde a época de Krishna -e que todavia ainda deveria prosseguir doravante-, ao confundir ciclos de grandezas distintas e acreditar em números meramente simbólicos -tudo muito próprio das trevas e da ignorância que a Idade de Ferro representou para o mundo.(6)

Finalmente, Kalki instruiu para as pessoas deixarem as grandes cidades poluídas porque ali não podiam viver como seres humanos dignos e com verdadeiro poder de decisão. Explicou que este tipo de vida também alimentava as guerras do mundo, além de produzir desequilíbrio ambiental.

Naturalmente houve muita resistência da parte daqueles que tudo controlavam com mão de ferro, mas ainda assim muitas pessoas ouviram o chamado do Avatar e decidiram abandonar aquele modelo suicida de vida a que estavam sujeitas.

Ao mesmo tempo Kalki as orientou para que criassem comunidades junto à Natureza e organizassem novas cidades de paz e de colaboração, a fim de reunir todos que tivessem bom coração, tendo a Sabedoria divina como Norte em todas as suas decisões. E assim a humanidade pode finalmente voltar a ver a Idade de Ouro renascer no planeta.


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Kalki então retorna para Shambala para governar, inaugura um novo Yuga (Krita, Idade de Ouro) para o Bem do mundo e divide a terra entre seus generais. Quando finalmente o seu dharma (dever) é concluído, Kalki então deixa a terra para regressar para (o céu de) Vaikuntha.” (Kalki Purana)

Notas: 

1. A elucidação acerca dos verdadeiros mistérios do Pralaya, representa portanto uma das tarefas de Kalki, em torno de uma de suas especialidades que é a Astrologia ou Cosmologia.

2. O termo “Shambhala” indica uma referência tradicional de geografia sagrada relacionada à certas regiões centrais do planeta onde os Avatares costumam encarnar.

3. O horóscopo de Kalki anunciava assim todas as harmonias cósmicas do final dos tempos, em torno dos signos avatáricos da hora presente na forma dos Grandes Luminares -ver também sobre o Dharma de Harmonias Cósmicas de Maitreya Buda, que é a versão budista de Kalki. Era portanto uma Encarnação que -potencialmente falando- já nasceria com todos os portais da iniciação prontos para serem atravessados, caso ela assim o desejasse…

4. Considerado como manifestação de Garuda, o cavalo de Kalki é chamado no Kalki Purana pelo nome Davadatta, “Dádiva de Deus”, por haver sido dado por Shiva para Kalki. Contudo dada a sua destreza e habilidades, os vizinhos doadores do animal, que eram devotos de Shiva, chamaram-no também como “Vimana”, nome dado na Índia a uma espécie de naves espaciais místicas dos clássicos hindus. 

5. “Tudo o que vive está afetado pelo carma das vidas anteriores. Deus sofreu penalidades terríveis a fim de que todos ficássemos livres de carma, pois nada está fora do alcance deste princípio búdico de salvação.” (“Sutra de Jesus Cristo”, Manuscritos de Dunhuang) Os puros e os iluminados possuem uma capacidade especial de realizar uma expiação em favor da humanidade, pois não possuem carma próprio e vivem num tempo-energia especial, potencializando assim o alcance do seu sacerdócio.

6. Graves são os erros calendáricos que muitas grandes religiões sustentam, em decorrência da perda dos conhecimentos e do próprio fanatismo religioso, mantendo as pessoas numa temporalidade irreal e desconectada dos acontecimentos factuais -e claro, aquilo que é o mais importante, fomentando uma espiritualidade passiva e impotente diante das demandas de um tempo de transição, induzindo daí à alienação perante a destruição do mundo e à impotência para reagir à decadência da civilização. Ver aqui sobre o problema do Kali Yuga.


Observação: A presente história reúne informações dos clássicos hindus Vishnu Purana e Kalki Purana (relacionado ao Kalachakratantra), juntamente com fatos reais da encarnação do Kalki Avatar já ocorrida no Ocidente, em estilo mitológico e de maneira sumária, com alguns elementos originais. Os três grandes temas em destaque nestes relatos são Espiritualidade (Yoga), Astrologia (Kalavidya) e Sociologia (Samajsastra), refletindo também três dimensões centrais da Missão de Kalki.

Para saber mais

Os Pilares da Sabedoria (Relatos de Iniciação)

A Iluminação de Maitreya

A Experiência Serpentina

Veja também

Quem é o Maitreya aguardado

A aristocracia cósmica de Maitreya

O Que são os Mestres?


Sobre o Autor

Luís A. W. Salvi (LAWS) é estudioso dos Mistérios Antigos há mais de 50 anos. Especialista nas Filosofias do Tempo e no Esoterismo Prático, desenvolve trabalhos também nas áreas do Perenialismo, da Psicologia Profunda, da Antropologia Esotérica, da Sociologia Holística e outros. Tem publicado já dezenas de obras pelo Editorial Agartha, além de manter o Canal Agartha wTV 

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