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A existência do Iniciado é toda superior à do leigo em termos espirituais, e isto se reflete também na sua vida conjugal. Que mistérios maiores velam afinal as hierogamias sagradas, as parelhas de Budas, deuses e avatares de todos os tempos? Certamente o tema é rico e se expressa inclusive em vários níveis. Aqui trataremos de todos eles e em especial daquele mais direto e impactante na vida dos grandes Enviados divinos que é o da experiência do sublime Amor perfeito.
Esta é pois mais uma grande revelação que a manifestação do último Avatar vem trazer para a humanidade, através da história de Kalki e seu grande amor Padma, anunciando a abertura de novos caminhos de realizações espirituais e trazendo respostas para alguns dos maiores enigmas que afligem a cultura humana por muito e muito tempo.
1. Preparações
Desde muito jovem o futuro avatar Kalki fora um espírito romântico que se apaixonava com facilidade. Não obstante era tímido e reservado permanecendo longamente casto, enquanto que o interesse pela experiência mística sim é que crescia em sua alma cada vez mais.
Com a aproximação da vida adulta quando as mulheres começaram a ser aproximar com intenções explícitas, o seu natural idealismo o faz sonhar com moças mais recatadas criadas nos interiores das terras. Suas primeiras experiências com o sexo oposto apenas confirmariam os seus temores. Contudo, como é comum acontecer nas famílias abastadas e nas casas reais, os pais do jovem Kalki nascido em Shambhala também tinham os seus próprios plano para ele, o que tampouco ajudava nos reais propósitos íntimos de Kalki de uma vida simples e elevada, que amadureciam lentamente em sua alma sem que ele sequer se apercebesse.
Não obstante acontece então o verdadeiro despertar de sua vocação espiritual, interrompendo os seus sonhos de juventude, talvez até de maneira providencial. Agora Kalki desejará levar realmente a sério a sua espiritualidade, e para isto decide começar uma experiência prolongada de retiros. E assim passará anos em ashrams dedicando-se exclusivamente ao cultivo dos Yogas e aos estudos, como é de fato a ordem correta e natural das coisas no Hinduísmo, cuja primeira etapa-de-vida chama-se Brahmacharya, aquele que está consagrado a Deus através da castidade e do estudo.
Neste percurso Kalki teve a oportunidade de fazer florescer a sua alma de muitas maneiras, seja pelas disciplinas como pelo serviço espiritual, tal como no convívio com os irmãos de buscas, no cultivo das artes e também pelos próprios contatos íntimos com a Natureza.
A certa altura Kalki sentiu porém que tudo aquilo era sim muito nobre e maravilhoso, mas que já havia bastado para si: tinha outros compromissos para atender em sua vida. O desejo de ter uma companheira voltou então a crescer nele. Seu coração estava pronto para assumir a condição de Grihasta, a segunda-etapa-de-vida da sociedade hindu, quando o iniciado constitui um lar na condição de sacerdote doméstico. Neste momento a família natal lhe convida a regressar para o seu seio, e Kalki decide aceitar o convite.
Conhece então algumas moças próximas aos antigos círculos das relações familiares, descobrindo que tornara-se com efeito um homem de verdade. Não satisfeito porém, segue fomentando a sua vida interior, investigando locais místicos e visitando os seus velhos mestres. E foi justamente numa destas ocasiões, quando o seu mestre mais venerado estava presente num ashram onde Kalki havia vivido, que ele conhece aquela que seria o seu grande amor. Seu nome era Padma, também conhecida como Padmavati, que significa “aquela que é como o Lótus”.
2. O Encontro
Eis que Kalki e Padma estavam inicialmente muito embevecidos com a presença do mestre e entretidos com as tarefas do grupo local. Contudo ao se conhecerem como por mágica tudo subitamente mudou. A flecha do cupido atingiu a ambos poderosamente, e sinais começaram a aparecer. De forma muito simbólica, aconteceu que num jogo de amigo secreto com dezenas de participantes, Kalki e Padma pegaram casualmente os nomes um do outro, o que representa uma situação muito rara de acontecer…
A partir daí foram se afastando do grupo para conversarem entre si a sós. Descobriram que possuíam muitas coisas em comum, entre gostos e sonhos pessoais, inclusive pela grande identidade dos seus horóscopos pessoais. E assim anteciparam a sua saída do local para irem embora juntos. Sentiam de algum modo que já tinham um no outro tudo aquilo que realmente precisavam doravante. Bastava então regar aquela pequena semente de amor que havia desperto entre ambos, nascida sob as bençãos do mestre amado.
Quem era esta misteriosa jovem encantadora e adorável chamada Padma? Considerada como uma encarnação de Lakshmi, esposa do grande Deus Vishnu e manifestação da riqueza, da beleza e da graça, Padmavati também costuma ser vista como uma reencarnação de Sita e de Radha, que foram esposas de Rama e de Krishna. Era uma criatura de pequeno porte, por esta razão as pessoas comumente a chamavam afetuosamente de Laghupdma, “Pequeno Lótus”. Ao mesmo tempo ela era muito magnética e cativante; sabia sorrir com os olhos e sua fala era melodioso, daí Kalki também a chamar de Lilavati, que era o nome de Radha quando sorria, significando “divertida, charmosa, graciosa". Finalmente ela também sabia ser esperta, astuta e eficiente em tudo aquilo a que se dedicava.
Kalki e Padma logo trataram de conhecer-se também na intimidade. Como um Iniciado longamente provado, e dadas as suas experiências anteriores, Kalki sentia-se bastante seguro como homem. No entanto, eis que com Padmavati ele encontra uma condição desafiadora, misto de situações felizes e frustrantes. Tudo parecia perfeito entre eles, mas algo não parecia andar bem nos ritmos pessoais de Padma.
Para sua surpresa, descobrira amar alguém com quem tinha certas dificuldades íntimas. Ficou confuso com aquilo e voltou a se interiorizar mais e a frequentar locais místicos em busca de paz, desejando apenas compreender o que poderia estar acontecendo com eles afinal...
Kalki ainda não sabia o que fazer, mas era persistente e estava determinado a solucionar o problema. Começa assim a orar fervorosamente para Shiva, que era o deus com o qual tivera até então maior intimidade. Em resposta Mahadeva (que é outro nome de Shiva) trata de observar que Padma era uma boa moça vinda dos interiores como Kalki buscava, que até já vinha praticando disciplinas e recebendo algum treinamento espiritual, mas tudo de forma algo incipiente ainda.
Shiva observa que o carma de Padma poderia abrigar ainda alguns obstáculos atávicos, e ela nunca tivera alguma grande experiência de ashram para purificar melhor a sua alma. Em último caso, conclui ele ocultando um sorriso, Kalki teria uns últimos truques para tirar da manga, pois ele conhecia muito bem os recursos para abrir portas muito emperradas da Alma.
Kalki escutou tudo aquilo atentamente. As palavras de Shiva eram sábias. Em seus anos de ashram Kalki pode observar o poder transformador das disciplinas, não apenas nele próprio como também em pessoas com verdadeiros problemas espirituais. Obsessores podem ser poderosos, porém a disciplina os entedia deveras, uma vez que aquilo que eles desejam mesmo é diversão, terminando assim por expulsá-los um a um.
Kalki já vinha investigando por curiosidade os mistérios da feitiçaria desde a sua adolescência, de modo que ele conhecia muito bem os seus efeitos nas pessoas. O que ele não sabia é o quanto mais seria obrigado a conhecer em breve de forma muito objetiva em função dos seus singelos esforços para alcançar um amor mais profundo e satisfatório com sua adorada Padma…
Lamentavelmente muitas mulheres nascem ou adquirem marcas espirituais negativas, e resulta-lhes bastante difícil removê-las por si sós por não terem um bom sistema de disciplinas especialmente destinados a elas. Muitas terminam por isto sendo associadas a bruxas ou coisas piores. Mesmo em ashrams abertos a mulheres, raramente Kalki chegou a ver alguma menina por ali; até homens eram poucos e Kalki lamentava tudo isto.
De modo que ficou preocupado com a ideia de precisar esperar anos para que a alma de Padmavati estivesse também preparada para o amor. Por outro lado ele estava ali com toda a sua experiência espiritual. Decidiu assim propor a Padma que passassem a frequentar mais o ashram e a realizar práticas espirituais juntos, para aos poucos ir refinando as suas almas e afinando-as entre si. Para que as práticas pudessem alcançar o seu bom termo, também seria importante reduzir a intimidade durante aquele período. Aos poucos Padma compreendeu a situação e foram chegando aos acordos necessários. E com isto Kalki também estaria cumprindo os seus deveres como Grihastha ou sacerdote doméstico desde os mais altos graus de espiritualidade.
Kalki agradece então os preciosos conselhos do velho Shiva, cuja sabedoria é incomparável. Mahadeva sabia pois perfeitamente aquilo que estava dizendo, nada casualmente Shiva também é conhecido como Mahavaidya, o Supremo Doutor. No entanto este lhe respondeu solenemente com estas palavras:
“- Não precisa me agradecer, jovem Kalki. Saiba apenas que, da mesma forma como os Mestres assumem parte do carma dos seus discípulos quando se decidem pela instrução -e é por isto mesmo que eles se tornam Mestres-, os grandes amantes também podem fazer o mesmo quando assolam as pétreas muralhas do carma na busca do amor.”
Kalki ouviu novamente com atenção estas enigmáticas palavras, mas como todo homem apaixonado preferiu apenas seguir em frente com seus planos, confiante em suas próprias boas intenções. Na verdade, chegou até mesmo a entrever um estímulo naquelas profundas palavras de Shiva, sem imaginar todas as suas possíveis implicações. Eis que o amor verdadeiro por vezes traz alguns desafios cármicos, podendo pregar peças e até soar desconcertante...
3. O Céu
E assim o yoga de ambos foi evoluindo passo a passo, e Kalki também teve a oportunidade de seguir avançando assim em suas próprias práticas. Percebia ademais os avanços na consciência de Padma, o aumento das suas capacidades de entrar em estados de grande paz e profundidade.
Vez por outra Kalki tinha a oportunidade de aferir os avanços da sua intimidade com Padma. Finalmente compreendeu então que tudo aquilo poderia demorar muito ainda. E decide empregar alguns recursos auxiliares que conhecia, seguindo assim as insinuações de Shiva, cuja aprovação sabia possuir para isto, porque o próprio Mahadeva lhe havia prescrito o Soma no passado. Shiva é também chamado de Somanātha, o “Senhor do Soma”.
Na mitologia hindu no rito primordial intitulado Kshira Sagara (“coagulação do Oceano de Leite primordial”), Lakshmi emerge portando Amrita através da atividade cósmica realizada pelas forças da luz e das trevas em conjunto sob a direção de Vishnu. Assim tudo indicava que Kalki estava meramente seguindo um roteiro cósmico pré-estabelecido para alcançar uma grande revelação. O Amrita trazido por Lakshmi seria o fruto do amor puro e a luz da consciência iluminada -ainda que nesta altura Kalki não imaginasse naturalmente as complexidades que tudo isto poderia representar. Shiva porém sabia o que estava fazendo e havia preparado bem Kalki para esta desafiadora situação.
Este seria também muito cuidadoso com Padma, empregando apenas o necessário para que pudesse alcançar uma plena experiência de Presença no aqui-e-agora. Limitar-se-ia então a ministrar a medicina em Padma, pois não sentia necessidade de aplicá-la também em si próprio. Sua amada já vinha avançando nos yogas e em sua capacidade de expandir a consciência. O objetivo era dar pois o empurrãozinho que faltava para Padma terminar de superar os seus entraves cármicos todavia remanescentes para dar maior acesso à sua Alma.
Kalki inclusive faria uso destes recursos a contragosto e apenas por já não enxergar alternativas; a superação completa do carma e da consciência densa representa sempre um desafio muito complexo, porque todo ser humano tende a acumular muito carma dada a sua ignorância das verdadeiras Leis da Evolução. Há muito Kalki havia superado a necessidade pessoal de recorrer a expedientes externos, pois se tornara um grande expert nos mais avançados yogas -ele até mesmo houvera decodificado o sistema original dos Nove Yogas. Agora porém a situação era diferente. Havia outra alma junto a ele que necessitava de ajuda, e ele conhecia muito bem todos os caminhos das medicinas. Não se tratava de pessoas comuns buscando experiências vulgares, e sim um casal de iniciados perseguindo o verdadeiro amor. Havia portanto sinceridade, honestidade e sabedoria em suas atitudes.
O jovem casal então combina um novo encontro e o ambiente é criado para tal, misto de ritual e de... matrimônio quiçá?! O Soma foi preparado e ministrado devidamente, sob as bençãos de Shiva. A experiência de Padma foi suave e tranquila, Kalki a orientou pelos passos necessários e logo ela encontrou grande paz e tranquilidade, sentindo-se plenamente presente e relaxada.
Naquele momento ambos se encontravam naturalmente num grande estado de paz. Nem desejo ou ansiedade os moviam então. Isto era um bom sinal. Kalki já sabia muito bem o quanto o Soma poderia ampliar as sensações. Agora suas metas eram todavia mais nobres, mesmo sem ter plena clareza a respeito. Porém ele não estava nada preparado para aquilo tudo que iria vivenciar, em termos de felicidades e de sofrimentos, neste único encontro de amor verdadeiro revelado…
Quando Padma estava bem relaxada, desperta e sem ansiedades, Kalki intuiu ser o momento para buscar uma aproximação. Então Kalki pegou suavemente o braço de Padmavati para beijá-lo -meramente o braço. Porém a sensação que aquilo proporcionou a ambos foi simplesmente assombrosa, porque era exatamente igual a um êxtase completo e acabado, embora sem o concurso exterior da ejaculação. Kalki trata então de beijar-lhe também a boca, com resultados igualmente sublimes e transcendentais, mas sem forçar qualquer excitação. Descobre assim que, de uma forma misteriosa, não havia necessidade de “fazer amor” com Padma, porque era como o amor já estivesse pronto e acabado entre eles...
Esta surpreendente revelação era totalmente revolucionária em suas implicações. Ele jamais imaginara ser possível existir tamanha perfeição, e nunca ouvira falar de nada sequer parecido. Sim já ouvira dizer da possibilidade de separar o êxtase e a ejaculação, e até tivera algumas experiências tântricas nesta direção; porém aquilo tudo que vivia agora, e sem necessidade de controle ou de esforço algum, mas simplesmente embarcando a todo vapor no fluxo do Universo, era algo completamente distinto e excepcional.
Não era o desejo que estava sendo assim estimulado, e sim o puro coração, ou a consciência, o próprio amor enfim. Na verdade foi Padmavati, muito arguta e inteligente que era, a primeira a expressar o sentimento de ambos a respeito daquilo que estava acontecendo, ao dizer: “Veja só como estamos sentindo ambos uma coisa só…” Era uma tentativa de exprimir a comunhão perfeita de consciência, percepção e Ser que experimentavam naqueles momentos de superior intimidade. De fato, o mistério da Alma Única de que falava Platão, que existe em relação às almas-gêmeas, estava ali completamente plasmado, quando ambos viam extasiados finalmente desabrochar o seu Ser único em plenitude...
Era pois o próprio paraíso que reabria desta forma as suas portas para eles, a redenção do pecado original e a retomada da Árvore da Vida, dando sentido finalmente a todos os maiores mistérios do amor e da sexualidade…Aquela sublime experiência, que era também uma grande realização, vinha como um prêmio inesperado na vida deste grande romântico e buscador do paraíso terreal que era Kalki.
4. O Inferno
No entanto, o destino assim constrangido também cobraria o seu preço, e que não seria pequeno. Eis que, logo após Padma proferir a sua singela observação, a situação inverteu-se uma vez mais, e acrescida dos ganhos obtidos pelas revelações alcançadas, tornadas então em graves perdas insubstituíveis…
O uso dos antigos recursos da magia e da feitiçaria tem o poder de abrir as portas do céu e do inferno por mover barreiras ancestrais do carma humano. A poucos é dado enveredar por estes abismos com sucesso -e nem vamos falar neste caso impunemente.
E assim, da mesma forma como uma porta celestial abrira-se antes, agora uma outra porta infernal é que se escancarava para tragar o inocente casal. Novamente nada se entendia, somente que um vazio do tamanho do mundo engolia o par, também num mesmo sentimento, porém agora de angústia e de opressão. Que acontecia afinal?! Acaso o casal havia ativado alguma maldição? Rompido algum tabu ancestral? Seriam eles como aprendizes de feiticeiros jogando com poderosas forças desconhecidas?! Como compreender afinal tamanha invasão súbita de temores e de incertezas tampouco conhecidos?
Confuso e abismado com tudo aquilo Kalki afastou-se desaparecendo na escuridão da noite, sem saber tudo o que lhe aguardava a partir dali. Já no caminho de volta para seu lar, começou a encontrar feitiços imensos espalhados por onde deveria passar. A própria vizinhança pode testemunhar que o assédio dos feiticeiros ia até mesmo junto ao jardim existente da casa de Kalki para depositarem ali os seus feitiços. E tudo isto atingia em cheio a sua Alma, pese haver conquistado já muitas poderosas iniciações.
No dia seguinte, após uma noite insone lutando contra demônios, Kalki procurou Padma, mas esta já havia se entregue aos braços do primeiro homem que encontrou, por assim dizer. Foi a forma como o seu pavor e desespero tentara selar uma ruptura, pois já não desejava rever Kalki, a quem passou a acusar de lhe ser prejudicial. Não obstante foi sobre este que seguiam recaindo as perseguições dos infernos. Eis que todas as suas enfermidades agravaram-se e as que estavam latentes assomaram de vez. Kalki viu-se assim em pouco tempo mortalmente prostrado, terminando por ficar completamente enfermo e desesperado num leito agonizante.
Fosse aquela uma situação comum, a vítima teria prontamente sucumbido, como de fato acontece como regra para todos aqueles que atravessam aquela iniciação de Arhat que Kalki agora conhecia desta forma dramática. No entanto ele não era um iniciado qualquer -muito pelo contrário; realizara um rigoroso treinamento iogue por muitos anos, além disto as experiências sublimes que tivera recentemente redobravam-lhe a motivação. O medo era uma situação a qual Kalki já pouco conhecia ao longo da vida, porém agora ele estava determinado a enfrentar até mesmo os maiores demônios para salvar a sua vida e tentar libertar a sua amada. Quiçá muito mais se necessário fosse.
Kalki era um guerreiro incomparável que havia resgatado os maiores segredos perdidos do amor em favor da redenção da humanidade. Tais experimentos representam também uma antecipação e uma semeadura das realidades que a humanidade viverá de forma normal e corrente dentro de muito tempo. A partir da quarta ronda atual esta experiência foi se tornando cada vez mais conhecida, muito embora restrita ainda a alguns poucos iniciados. Até que ao chegar o quarto ano cósmico dentro de quase trinta mil anos, ela venha finalmente a se tornar uma das grandes bases naturais da cultura universal.
Kalki pagou o preço necessário para conhecer os arcanos mais profundos do amor, porque tinha méritos, sabedoria e determinação suficientes para isto, a partir de toda uma existência apaixonadamente consagrada ao conhecimento da Verdade.
Sua capacidade de sobreviver às consequências de sua divina ousadia apenas corroborava o seu divino poder espiritual intrínseco. A eternidade agora era o seu campo de provas, pois tivera uma grande experiência que transcende o tempo. Tornava-se assim como um novo Rama enfrentando os maiores demônios e um novo Orfeu descido aos infernos em busca da amada perdida.
5. A Iluminação
Kalki começa então uma solitária luta contra as forças trevosas que o assolam impiedosamente, e que terá um auge quando ele voa até o gompa (templo) do principal feiticeiro que comanda toda esta perseguição, retribuindo assim o assédio que ele ordenara a seus asseclas realizarem junto ao seu lar
A partir dali serão apenas esforços para sobreviver, contudo eficazes culminando na conquista da sua iluminação, para ter acesso desta forma a energias muito poderosas, capazes não apenas de afastar de uma vez por todas os maus espíritos que o perseguiam, como também dar início às suas próprias curas. Para sobreviver a tudo isto Kalki precisou se iluminar completamente, pois ele havia se preparado para esta suprema conquista em seus anos de estrita dedicação aos Yogas. Kalki tinha 29 anos então, que é o ciclo de Saturno, e esta sua grande conquista havia ocorrida sob o prazo tradicional da iluminação dos Avatares.
Outros consolos espirituais seguiram acontecendo depois disto, como a conquista do Adeptado quando Kalki desperta em definitivo a sua vidência interior, passando a ter acesso aos conhecimentos tradicionais das grandes Hierarquias. Para um grande amante do conhecimento como era, aquilo representava um verdadeiro trunfo.
Kalki e Padmavati ficariam então apenas dois anos juntos nesta ocasião. Depois disto ele ficou muitos anos sozinho, apenas cultuando a lembrança de sua amada e a memória daquele amor sublime que um dia floresceu entre eles como um lótus iluminado. As mulheres mais sábias e belas desejaram aproximar-se de Kalki então, uma vez que ele detinha grande sabedoria e autoridade espiritual, porém como conhecia agora o significado de um amor único e perfeito, sentia ser o seu dever seguir apenas a ele consagrado.
Não obstante, suas dores e padecimentos ainda eram muito grandes, pois a sua iluminação pouco mais servia que para ajudar a sobreviver e a produzir os conhecimentos superiores necessários. Então Brahma decide lhe enviar uma encarnação de sua própria esposa Saraswati para lhe servir de companhia, com doçura e dedicação. Era uma virgem de trinta anos -uma idade que se tornara simbólica na vida de Kalki-, uma verdadeira vestal consagrada a Deus chamada Maya. Sua grande pureza e idealismo alcançaram cativar Kalki, que assim finalmente aceita alguém novamente em sua vida. Esta Dakini trouxe a energia da abundância e do conforto naquele difícil momento da vida de Kalki, tal como fizera a maga Ísis na vida do moribundo Osíris.
Juntos aprenderam e conheceram muitas coisas novas. Contudo após alguns anos, Kalki volta a se dedicar exclusivamente ao trabalho espiritual, buscando sedimentar os seus conhecimentos no mundo. Passam alguns anos, e novamente ataca-lhe a dor e a solidão, também como efeito de suas renúncias ao Nirvana, e agora será Shiva quem lhe envia uma ioguini para lhe fazer companhia, encarnação de sua esposa Parvati. Alguns também a relacionaram a Ramaa, que é a outra esposa de Kalki, também associada a Lakshmi como expressão de riqueza e de beleza. Com isto era capaz de proporcionar a Kalki todo o conforto e os consolos que o seu corpo e a sua alma renunciantes e sofridos de tantas batalhas poderiam necessitar.
Nas biografias dos avatares sempre aparecem Iniciadas que possuem relações com as etapas de evolução ou de consciência do próprio Mestre, como são as Taras budistas ou as Devis hindus. A Krishna são atribuídas por esta razão três esposas, e a Kalki duas. Não obstante, estas colocações podem não ser literais; poderia ser precipitado ver tais referências como expressão de bigamia, tratando-se antes de relacionamentos sequenciais e sempre de importância transcendental de alguma maneira. É preciso antes contextualizar tais situações dentro da Tradição monogâmica vitalícia, onde as sucessivas relações dos avatares adquire em contraste uma especial legitimidade, pois cada etapa de sus existência é muito como uma nova vida.
A presença do Sagrado Feminino nas biografias avatáricas oculta não raramente um papel determinante e de destaque, sobretudo aquela relacionada ao transcendental Amor verdadeiro. Basta lembrar para isto as vidas de Osíris, de Orfeu e do Rei Arthur. No Ramayana a esposa de Rama, chamada Sita, que fora capturada pelo perverso Ravana, condicionou a sua libertação à que Rama destruísse totalmente o império do Mal que o Demônio havia construído. Algo nesta linha tem-se a história de Helena de Tróia. Mas também nas vidas de Krishna e da Jesus o feminino adquire um papel proeminente. O Budismo tibetano é pródigo em representar a presença de Taras e Dakinis na vida dos iogues, e não menos importantes são as Devis do Hinduísmo.
6. Vaikuntha
Até contra muitas previsões, Kalki e Padma ainda voltariam a se encontrar em idade mais avançada. Muita coisa importante havia ficado afinal no meio dos seus caminhos, e Kalki sempre sonhou com este dia por mais que ele pudesse tardar...
Assim, após se separarem, Kalki e Padma ficaram trinta anos afastados um do outro, reencontrando-se portanto sempre sob as revoluções de Shani (Saturno). Agora Padma havia amadurecido emocionalmente, e era de fato uma mulher. Foi bastante positivo para ambos conhecer esta nova realidade, pois de certa forma era como se estivessem se conhecendo pela primeira vez. De alguma forma os padecimentos de Kalki também auxiliaram a aliviar o seu carma, tal como de resto em toda a humanidade.
O primeiro encontro de Kalki e Padmavati fora como um grande cometa que brilhou no céu de suas vidas transformando-as para sempre. Contudo muitas dores haviam permanecido daquela traumática separação e suas consequências. De modo que o seu reencontro serviu acima de tudo para pacificar as suas almas e curar algumas feridas. Já pouco importava naquela altura para eles voltar ao passado. Kalki havia se habituado a cultivar um “amor platônico” por Padma. Era uma forma que encontrara de sentir-se um pouco mais completo.
No mais era dizer como Jesus: “Pai, faça-se a Tua Vontade e não a minha.” Kalki abriu todos os caminhos para a libertação da humanidade e viveu apenas pela e para a sua Missão. Kalki havia compreendido que cada segundo de amor profundo com Padma seria como uma experiência acumulada de eons, e pela mesma razão o sacrifício desta sublime experiência servia também como uma expiação em favor da redenção do mundo por muitos eons… Não poderia pois haver renúncia ao Nirvana mais completa do que esta. Se tal fora afinal a vontade dos deuses, ele estava disposto a realizar todos estes sacrifícios incomparáveis, em prol da salvação da humanidade. Acaso estava escrito nas estrelas que as coisas deveriam acontecer assim?
Após sua iluminação Kalki desenvolveu muitos conhecimentos sublimes, entre eles uma perfeita Ciência das Almas-Gêmeas, rica de informações sobre Psicologia Esotérica, para ser entregue às futuras gerações a fim de que o paraíso de Vishnu pudesse um dia ser plasmado na face da Terra. Isto é importante porque a nova raça que Kalki vem abrir também pode ser considerada quaternária, dando margem para que muitos possam aspirar pela quarta iniciação ou pela verdadeira iluminação liberadora. Contudo se espera neste caso que os caminhos da iluminação sejam cada vez mais suaves e acessíveis para a humanidade. Afinal, e como se costuma dizer nos mundos espirituais, o avatar sempre queima até metade do carma da humanidade com seus próprios esforços e sacrifícios.
A grande diferença entre os avatares lunares como Buda e Jesus é que estes buscam levar a humanidade para o paraíso, ao passo que os avatares solares como Krishna e Kalki ou Maitreya buscam trazer o paraíso até a humanidade.
Pois na verdade Kalki e Padma traziam consigo os grandes signos internos do paraíso Vaikuntha, reunindo os planetas em destaque na presente transição planetária, posto que que Vaikuntha é igualmente o nome de um avatar especial de Vishnu, de modo que Kalki e Padmavati tratavam-se ademais de verdadeiras Encarnações do Amor divino.
Ao longo de sua existência intensa e bem aproveitada, Kalki aprendeu muitas formas excelentes de amor, para além daquele que as pessoas conhecem dentro de suas famílias. Conheceu também o amor pela Natureza, o amor por Deus, o amor à Verdade, o amor pelo Mestre, o amor pelos discípulos, o amor pela humanidade, o amor da Alma-Gêmea e outros mais. Todos podem ser puros e excelentes, dando um sentido maior à existência humana e abrindo caminhos para a liberação das ilusões da matéria.
O sacramento do Amor representa um dos maiores mistérios das sagradas instituições. Raramente os seus mistérios vem à luz mais plenamente na existência no leigo, e no entanto a sua realidade pontifica a história das religiões com uma marca indelével e inconteste. Com efeito a história de Kalki e Padmavati que se apresenta aqui evoca em muito as histórias de outros tantos avatares e talvez elucide também os caminhos de muitos outros cujas histórias se perderam ou foram corrompidas por esta ou aquela razão.
Dificilmente romances entre Iniciados terminam com palavras românticas como “felizes para sempre”. A grande diferença é que o tempo das pessoas comuns é limitado a esta única existência, ao passo que aqueles que conhecem o verdadeiro amor desfrutam da eternidade nesta e em outras vidas.
Nenhum Mestre ou Avatar sonha realmente com a felicidade neste mundo, porque descem até ele para servir incondicionalmente e como renunciantes do nirvana. Por outro lado, Kalki e Padma sabiam perfeitamente que, por haverem realizado o seu trabalho com perfeição e dignidade, estavam reservados para eles agora os mais exaltados lugares no Paraíso do deus Vishnu chamado Vaikuntha, do qual vieram um dia e ao qual regressariam.
Para saber mais
Maitreya e a experiência Serpentina
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Os Pilares da Sabedoria (Relatos de Iniciação)
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Sobre o Autor
Luís A. W. Salvi (LAWS) é estudioso dos Mistérios Antigos há mais de 50 anos. Especialista nas Filosofias do Tempo e no Esoterismo Prático, desenvolve trabalhos também nas áreas do Perenialismo, da Psicologia Profunda, da Antropologia Esotérica, da Sociologia Holística e outros. Tem publicado já dezenas de obras pelo Editorial Agartha, além de manter o Canal Agartha wTV.
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